quarta-feira, 15 de outubro de 2008

tico teco

tico teco
taco
tiro
tudo

tico teco
toca
teu
torpor

tico teco
tudo
tanto
teu

tico teco
tato
todo

tiro




torpor.

domingo, 7 de setembro de 2008


A intensidade, por vezes, assusta; mas não se engane.


É mero escape.

terça-feira, 26 de agosto de 2008



e no mundo freak show.

o disparate.
paredes brancas espelhos de alma seca e fulgaz.
´permita-se´, diz o cartaz no escuro, o franzir de testas.
malditos que se comem na avenida solitária
verdades relativas entre o bem e o mal.
aviso prévio
cansaço
nados sincronizados entre o Êxtase e a pausa.
o freak show tem que continuar
in finito.

quarta-feira, 2 de julho de 2008




Na madrugada, lembrou-se da infância. As luzes. A psicóloga havia dito que era problema de concentração, o que não impedia que a criança fosse tão inteligente. De antemão, falou a freudiana à mãe. O pequeno descrevia luzes vindo de todas as partes. Disformes. A simplicidade do que descrevia às duas mulheres de média idade, no entanto, não resolvia a situação. Elas não conseguiam ver nada. A mãe e a psicóloga.
´São como estrelinhas´, falava o inocente garoto. As consultas eram todas assim. E lembrou que de vez em quando, a psicóloga lhe dava lápis e papel. Desenhava e desenhava e desenhava...e, por vezes, apareciam pontos luminosos no papel. Sempre direcionados.
Justo naquela madrugada, essas lembranças tão distantes apareciam. Talvez por conta da noite cansativa de trabalho. O fato é que as luzes de vez em quando apareciam, mas já não contava pra mãe ou pra qualquer psicólogo.
E sua concentração como economista atual tirava qualquer dúvida do diagnóstico daquela psicóloga da infância. Os números se refugiavam em luzes, pontos, em ´estrelinhas´.
Decerto a mãe sempre teve a razão, quando dizia para todos como tinha um filho iluminado.

O Primeiro Ato




A luz bateu no rosto da menina, fortemente. Era aproximadamente 11:30 da manhã e o trânsito estava o caos normal de uma quinta-feira matutina.´- Devia ter pegado os óculos´. Fosse como fosse, a luz continuava a persistir sobre o rosto, os longos cabelos ondulados e o corpo aparentemente cansado da garota, que saía apressada de um apartamento no centro da cidade.

Era já hora do almoço e nada lhe vinha a cabeça. Só a vontade de chegar em casa e preparar o primeiro ato.´- Esqueci o cd...e agora pra voltar...nem pensar...com que cara, meu Deus?´. Deixara o apartamento da professora, assim meio sem dar satisfação. A presença dessa sempre tão reconfortante agora já não a agradava. Tudo se confundia.

Foi precisamente nessa última madrugada que pôde constatar o seu anti-amor. De um jeito vivaz, se propôs a sentir. Era toda Desamor, o anti-amor.Escolhera essa palavra para descrever o que sentira tão fortemente em seu ser. Sim, e o sol, na manhã, perdurara o sentimento. Apaixonadamente. E digo isso posto que coberto de desejo e intensidade.
Foi, em meio a uma nova descoberta, que apressava os passos e atravessava correndo as avenidas. Tudo a fim de começar e terminar o primeiro ato. Era preciso chegar logo em casa.
O sol quente, as ruas cheias, os olhares sorrateiros...e os passos que teimavam e teimavam e teimavam...

O seu desamor agora era tão intenso. Não que a professora tivesse culpa, sempre tão amável e cuidadosa. Mas sempre soubera que isso um dia ia acontecer. Era a sua natureza. A sua vontade outrora suprida agora desmoronava sobre um corpo que a escravizava. Um corpo cheio de desejos e instigações. Não podia se entregar a isso.

Fora à casa da professora, na noite anterior, assim meio sem razão. Já tinha na cabeça o que fazer. Tinha que admitir. No final, acabou encenando o primeiro ato-amor, tão esperado. O primeiro, em desamor. Em um ato só, constatou-se a volúpia de corpos que teatralmente encenavam sensações.

Depois de muito tempo num ônibus lotado e barulhento, avistou o prédio de sua morada. Desceu.´- Finalmente em casa´Mas afinal do que fugia, se todo esse universo contraditório a perseguia?. Falou com o porteiro como de costume. Subiu as escadas do edifício suburbano. E pensava na noite anterior, ´-o primeiro, com desamor´. Enquanto procurava a chave perdida na bolsa, pôde constatar que já não sabia ao certo o que acontecera na madrugada última. As lembranças se misturavam. A preocupação com aquela que outrora tanto a ajudara...Os novos desejos...O teatro...ah..o teatro a motivava por inteiro. E tanto... Achou a chave. Essa rodou escada abaixo, entre os descuidos da garota. O cachorro latiu. Era com dor no peito que pensava na professora. Ela bem sabia o que fazia. Aquela história de teatro... as encenações, as improvisações. O jeito como ela simulava a fala. Fora tudo muito bem arquitetado pela balzaquiana. Tinha sede: a contradição. O desamor depois do ato-amor, de tão extremo lhe tirou as energias. Era preciso começar.A porta se abriu enquanto ela descia e pegava a chave. O olhar inquiridor do padrasto, o cachorro latindo, a mãe na cozinha. As explicações devidas foram dadas. Tomou banho, lembrou de coisas antes jamais pensadas. O sol já não batia no seu rosto. Agora, a água rala do chuveiro velho escorria pelo corpo, que ardia em calor. Os cabelos ondulados agora tão molhados pregavam na pele alva da menina. O dia estava quente, decerto que estava. Se trancou no quarto. Estava pronta a começar o primeiro ato.
Da peça.